Há um ano atrás compartilhamos as tecnologias que podemos construir, na trilha de pensar as Tecnologias de Informação e Comunicação para emancipação e diversidade, lá no Festival Baiano de Mulheres na Tecnologia (FEMTEC). Ancoradas nos saberes afro-diaspóricos, lançamos a Conexão Malunga, plataforma de mídia negra pioneira no nicho de tecnologia no Brasil. Somos atualmente um grupo de 9 jovens negros, de Sergipe e da Bahia, das Ciências Sociais, Comunicação e Pedagogia construindo estratégias de emancipação em meio ao desenvolvimento das tecnologias digitais.

O compromisso de fazer a diferença na tecnologia – desde a produção acadêmica até a Governança – nos levou, junto com um time de pesquisadores, a espaços como o Programa Youth Brasil, Fórum de Internet do Brasil (FIB), Fórum Jovem de Governança da Internet da América Latina e Caribe (YouthLAGIGF) e o Fórum Internacional de Governança da Internet (IGF).
Em termos de mobilização política organizada, e dentro da tradição de mídia negra, integramo-nos a ações coletivas como o Manifesto da Mídia Negra, do Fórum Permanente de Igualdade Racial (FOPIR), em defesa da vida da população negra e pela reforma do sistema político no Brasil. Junto com mais de 50 organizações de Direitos Humanos assinamos uma nota contra propostas normativas que poderiam levar à criminalização e vigilância dos movimentos sociais ao tratar de “fake news”, tendo em vista a votação da PL 2630/20, mais conhecida como PL das Fake News.
No período de pandemia da Covid-19, vimo-nos na tarefa de promover debates que contribuíssem com o combate às fake news e o letramento digital. Desta forma conversamos com o virologista Rômulo Neris sobre os modos de prevenção eficiente ao novo coronavírus. A psicóloga Manuela Rocha nos ajudou a pensar os cuidados com a nossa saúde mental em meio ao isolamento e ao bombardeio de informações, e a advogada Flávia Carvalho nos instrumentalizou sobre a Lei Geral de Proteção de Dados, diante do crescente consumo de Internet na mediação das relações sociais.
No contexto de utilização de contêineres em presídios, monitoramento do isolamento social e o lançamento do livro “Comunidades, Algoritmos e Ativismos Digitais: olhares afrodiaspóricos”, organizado pelo pesquisador Tarcízio Silva, promovemos a série Rotas para a Liberdade, com discussões sobre vigilância às pessoas negras, segurança pública e encarceramento em massa, capitalismo de dados e racismo algorítmico.

Em “Tecnologia: Rostos, vozes e cor”, a menina dos nossos olhos, apostamos na arte, sobretudo na experiência de slammers e atores/atrizes, para promover a conscientização sobre os princípios da Internet no Brasil através do audiovisual. Em parceria com 9 artistas da Bahia e de Sergipe, realizamos uma formação em segurança digital como estratégia de promoção da visibilidade de artistas jovens independentes, a partir de referências da afrodiáspora, como Abdias do Nascimento e Audre Lorde.
O saber compartilhado resultou em uma série de vídeos onde os jovens compartilham fundamentos da legislação sobre Internet em nosso país, provando na prática que a população negra sempre produziu tecnologia, e evocando o rosto e a voz das tecnologias não podem continuar sendo representados só pela branquitude (status de poder conferido às pessoas brancas) ou pensamentos e modelos de negócios eurocentrados.
Promovemos estratégias de inclusão e proteção digital, e educação para as tecnologias e meios de comunicação, de forma qualificada e descomplicada, porque a diáspora tem o saber da conexão e as respostas para os desafios atuais do desenvolvimento tecnológico. Acreditamos que a responsabilidade com a diversidade é princípio para todas trocas em nossa malungagem rumo ao bem-viver. Trata-se do acolhimento de nossas demandas sobre o futuro da Internet e outras tecnologias e de nossas vidas, de maneira plena.
O primeiro ano da malungagem só foi possível graças ao Movimento de Mulheres Negras, que nos dá régua e compasso, e a todos os amigos, familiares, pesquisadores, apoiadores e seguidores que acreditam na força do saber ancestral e nos motivam a continuar no caminho certo. À toda nossa irmandade de barco, o nosso muito obrigada!
Seguimos juntes promovendo encontros e conversas proveitosos, sérios, leves e divertidos ao mesmo tempo, e convidamos vocês para continuar na malugagem. Vamos desconstruir e construir tecnologias juntes?